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Sobre raízes e tradições

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Para mim, o homem (sentido amplo) se define ao longo de sua vida. E acredito que uma das coisas que mais contribui para esse processo de definição são as raízes e tradições. Isso porque, penso que é preciso ter história, é preciso ter passado, para que saibamos de onde viemos e descubramos, por fim, para quê viemos. Eu nasci em meio ao sincretismo religioso. Família paterna católica, família materna judia. Não consegui negar quem sou (o judaísmo "passa" de mãe para filho) e fiquei com o judaísmo, que sempre foi muito presente e forte na minha vida, pois, fui criada com avó materna dentro de casa e conheci, por meio dela, e demais tias-avós queridas, a história da minha família. Então, conheci a história do meu bisavô, que nasceu no Marrocos e veio pro Amazonas, casou 2x e morreu aos 104 anos. Ele era de uma sabedoria e lucidez incríveis. Soube deixar seu legado. Penso nele como uma imensa árvore, com raízes profundas e galhos enormes. Os galhos somos nós, que nos multiplicamos em centenas, alguns primos nem conheço, mas, sei que existem, e que, assim como eu, continuam o legado porque podem lembrar das raízes profundas que foram deixadas. O judaísmo tem muito ritual, e, lógico, é cheio de tradição. Por isso mesmo é que gosto tanto, pois sou cheia de belas memórias desses rituais. Para sempre vou lembrar da música "Bendigamos" que cantamos muitas e muitas vezes em noites de Shabat. E como esquecer dos vários Kipus (jejuns) quebrados na casa de meus primos? Sem falar que pude viver uma das maiores emoções da minha vida quando meu filho fez o Brit Milá  aos 8 dias de nascido (circuncisão) o que me fez ir às lágrimas por ver que agora havia chegado a minha vez de passar o legado. Flexibilizações à parte, eu adoro tradição. Eu tenho a necessidade de lembrar, por meio da tradição, quem sou e saber o que posso me tornar. Quando assisti ao filme e ao musical Um Violinista no Telhado, eu me emocionei muito, pois, a personagem principal nos faz lembrar o tempo inteiro que é preciso tradição, tradição e tradição. Caso contrário, seguimos soltos, sem vínculo, sem raiz. Bom, meu coração falou mais forte que a razão e me casei com um gói (não judeu), o qual respeita a opção de criarmos nosso filho em minha religião e sou muito grata por isso, já que a vida inteira sonhei em transmitir os rituais e a minha tradição para alguém. Dessa forma, sigo, cheia de tradições, de expressões, de canções e de rituais que contribuíram para que eu me tornasse quem sou, para que eu soubesse de onde eu vim e para onde quero ir. Cheia de saudade e na certeza de que sou um pedaço dela, dedico esse post a minha adorada avó Myriam Benayon (in memoriam), com a qual tive a imensa alegria de conviver por quase 30 anos e que soube tão bem nos deixar o seu legado. Daniel já é um pedaço dela e sem qualquer dúvida, saberá das suas raízes.


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